Chão de sangue e suor

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Pensando sobre nossa realidade enquanto mulheres… às vezes penso no meu parto. Penso, será que eu estou devidamente empoderada? Eu estou empoderada de TODOS os meus processos? Externos… e principalmente INTERNOS?

Penso nisso sempre que percebo que confio d+ em quem eu acho que sabe/tem/pode mais que eu. Confiança d+ no outro, com a esperança que ele nos dê a pílula mágica, ou nos faça passar, ter, sentir, ver o parto perfeito, redentor, sublime, ou simplesmente… respeitoso…

Eu sinto que sempre eu tenho espaço e quero mais EMPODERAMENTO sobre os meus próprios processos. Trazer e lançar luz sobre medos, receios, confianças em amuletos mágicos (o obstetra perfeito, a doula perfeita, a família perfeita, o marido perfeito) quando o mágico mesmo é se deitar sobre um chão de sangue e suor, e se encontrar com sua própria humanidade, sua própria feminilidade… amar o sangue que vertemos todos os meses, nos deitarmos nesse chão e honrarmos nossas raízes de fêmea. Suar, suar e suar nessa caminhada de busca pelo conhecimento. e não se cansar. Mas se cansar, poder olhar ao redor, e ver que não estamos sozinhas, que estamos nesta fraternidade, irmanadas, lado a lado, reaprendendo a honrar nossos laços de sangue. Simples assim.

Um grande abraço de irmã, e beijos de luz.

Que o mês de Maio, mês de Maria, mês das mães nos traga renovação.

Formação de Doulas Papo de Gaia

Curso de Doula

Curso de Formação de Doulas Papo de Gaia – parto, pós-parto e educação perinatal

Doulas Responsáveis: Fernanda Leite (Campo Grande-MS) e Angela Rios (Rede Cegonha-Dourados-MS) e profissionais convidados.

Realização: Guampa e Papo de Gaia

Investimento

Estudantes – R$ 400,00
À vista – R$ 500,00
À prazo – R$ 600,00 com vencimento da última parcela em 15 de junho

Inscrições: https://docs.google.com/forms/d/1_ZGiHvwSfQeY9O2nKnbiUJ7roRoQ-j0lgho-P8LUSCg/viewform

Doulas em Campo Grande

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Fernanda Leite – (67) 9247-1814

Doula; Educadora Perinatal; Consultora em Aleitamento Materno; Reikiana; Iniciada em Regeneração Celular pelo Método Arcady Petrov; Facilitadora de Ciência do Início da Vida.

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Tatiana Marinho- (67) 8427-9838 (oi)  9263-9699 (claro)  8101-6063 (tim)

Doula; Educadora perinatal; Instrutora de shantala; Massoterapeuta; Consultora em amamentação.
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Larissa Malhada – (67) 9207-0272
Doula; Enfermeira

Reflexões sobre o Parto Normal (ou carta às minhas amigas)

Queridas gestantes, minhas amigas, futuras parturientes.

Sei que vocês em menor ou maior grau desejam um parto normal.

As que desejam de certa forma, que passem pela quantidade mínima, considerada segura, de intervenções.

Nós sabemos que o parto cirúrgico é uma intervenção de grandes proporções no parto humano. Sabemos que corta 7 camadas de tecidos, que o bebê não se aproveita de todos os benefícios envolvidos nas contrações uterinas, onde seus órgãos internos são massageados vigorosamente, fazendo-os “acordar” para enfrentar o novo mundo que em breve se descortinará, sendo o último órgão a ser massageado o próprio pulmão, justamente no canal de passagem.

O parto cirúrgico especialmente aquele marcado com antecedência, impede, de forma contundente que o bebê dê sinais de que está pronto, deixando romper a ligação materno-fetal de sinergia e sincronismo, onde ambos fazem um acordo sobre a chegada de dois novos seres no Universo – uma Mãe e uma Criança, fazendo assim que seja elevada a possibilidade de se fazer nascer uma criança que ainda não está à termo, ou seja, prematura.

Queridas, um bebê quando nasce muda tão profundamente a vida de uma mulher, que o parto cirúrgico, desprovido de intimidade, carente de calor e ritos de passagem, simplesmente nos entrega uma criança, sem deixar nada no lugar.

Quando fui fazer o exame do pezinho na minha filha a atendente viu logo que o parto não havia sido cesariana, pois, de acordo com aquela moça, as mães ficam “acabadas”.

Sei de mulheres que em maior ou menos grau, lidam bem com a cirurgia em si. No entanto, ademais dos riscos físicos envolvidos em um processo cirúrgico, ficam aqueles riscos dos processos emocionais, psicológicos e espirituais envolvidos.

Mas tudo isso, nós já sabemos. E vocês já sabem e desejam um parto normal.

Então meu desejo hoje é falar com vocês sobre o parto normal.

Ele é infinitamente mais desejável que o parto cirúrgico, sua recuperação é claramente mais rápida, fácil e segura.

Mas nem por isso, deixa de envolver riscos (como tudo na vida).

A informação, hoje, sobre os processos envolvidos no ato de nascer, seja lá onde se escolha parir, não estão disponíveis largamente e discutidas suficientemente em sociedade para que estejamos seguras de nossas escolhas.

Mormente, os médicos se adonaram do parto e eles “fazem o parto” conforme aprenderam.

Aprenderam que a mulher para ter “passagem”precisa na maioria das vezes de um corte que deixa marcas na vagina da mulher, por lhe cortar as fibras musculares, mas é raríssimo haver um médico que ensine à sua gestante, durante o pré-natal que ficar de cócoras o máximo de tempo possível, e fazer exercícios para o assoalho pélvico podem reduzir consideravelmente as possibilidades de laceração. Poderiam também orientar, no momento da expulsão do bebê a não fazer força, e simplesmente respirar, que o corpo e o bebê trabalham em harmonia e a força somente deve ser feita ao se sentir os puxos, que é quando a mulher sente uma vontade irresistível de fazer força. Mas é a MULHER que sabe quando deve fazer e em que intensidade. Nesse caso, a ansiedade da equipe deve estar bem controlada, os medos esclarecidos, as necessidades de todos bem ponderadas e a mulher, consciente de todo o processo pelo qual seu corpo está passando.

O procedimento de cortar é chamado de episiotomia, ele é feito em sua maioria, como procedimento de rotina.

Quero deixar claro que não estou defendendo este ou aquele jeito de parir, mas me coloco aqui e frente à ausência de informação quando o assunto é os “comos” as coisas são feitas no chamado momento P.

No parto normal também é efetuado como rotina a indução, especialmente se a mulher chega ao hospital/maternidade com bolsa rota (já estourou a bolsa) e com poucos centímetros de dilatação. Em princípio pode parecer uma coisa boa, pois se a bolsa rompeu o bebê precisa sair logo! É o que pensa a equipe. E colocam a parturiente a tomar o famoso sorinho. Esse soro é um hormônio chamado ocitocina sintética. Nosso corpo produz durante todo o trabalho de parto e em doses “cavalares” durante o período expulsivo o hormônio ocitocina, também conhecido como hormônio do amor. É conhecido assim porque É O MESMO HORMÔNIO EXCRETADO NO ORGANISMO DURANTE E APÓS A RELAÇÃO SEXUAL e provoca aquela agradável sensação de bem estar e ligação íntima. Assim, ao trocarmos o nosso pelo sintético estamos impedindo que o nosso faça o seu sublime dever.

Agora uma pausa, um parêntesis – vamos imaginar uma coisa: quando fazemos amor, uma relação sexual – imaginem… luz de velas… jantar íntimo… clima… sussurros… e… final feliz!

Fácil de imaginar?

O hormônio maestro dessa harmonia toda é a ocitocina!

O mesminho, sem tirar nem pôr, do parto.

Agora imaginem de novo – você com seu bem, a pessoa que você ama aconchegada nos braços, um escurinho… de repente, sem aviso prévio, alguém acende a luz, entra pela porta e toca em vocês só pra ver se está tudo caminhando “como deveria”. Será que quebrou o clima?

Ok, a pessoa só está cumprindo com o dever dela, está monitorando sua relação, você racionalmente até compreende isso, mas… Cadê?? Pra onde foram os olhares apaixonados? E as palavras de carinho? Será que se assustaram? Tudo bem! Nós somos adultos! Vamos recomeçar. Só que o monitoramento ocorre a todo o momento… a ocitocina? Bem… essa também precisa de clima pra se manifestar.

Olhando as coisas por esse ângulo, Leboier estava certíssimo ao incluir a penumbra como fator humanizador do parto.

Outro procedimento é a raspagem dos pêlos pubianos, chamada de tricotomia.

Bom, enquanto pesquisava alguma maternidade onde pudesse parir minha filha, me informaram que os procedimentos de rotina, especialmente os citados acima – aplicação de ocitocina sintética, tricotomia e episiotomia, são negociáveis!

Que a mãe pode parir até sem passar por alguns deles (como o sorinho, por exemplo), mas os procedimentos de rotina com a criança, eles não abriam mão. Na hora gelei. Procedimentos de rotina com o bebê?? Quais são? – além de medir e pesar: lavagem estomacal, intestinal, aspiração, banho, berçário para observação, injeção de vitamina K, pingar colírio de nitrato de prata e se demorar para ir para os braços da mãe: leite artificial e soro glicosado. O quê?? E o meu leitinho? Pensei. Naquele momento resolvi lutar pelo meu parto, do jeito como eu imaginava ser digno para a minha filha nascer.

Verifiquei a real necessidade de cada um desses procedimentos e sua origem e me senti segura para afirmar que minha filha não precisaria de nenhum deles. A única coisa que ela precisaria ao nascer era dos meus braços, meu colo e meu peito.

Eu tenho vontade de anunciar o que vem sendo recomendado pela Organização Mundial de Saúde e o que vem sendo praticado nos países desenvolvidos que é: em gestação de baixo risco, em primeira gestação, parir em casa é tão seguro quanto parir no hospital. E em segunda gestação, parir em casa é mais seguro. Existe uma série de motivos para essa recomendação e uma delas é a cascata de intervenções executadas com a mãe que pode transformar o parto normal em cesariana. Mas vejo que isso é uma ooooutra história. Por enquanto me contento em dar meu ponto de vista sobre o que significa cascata de intervenções. 

Por que “cascata de intervenções”?

Diz-se cascatas de intervenções pois uma leva à outra. Ocitocina artificial potencializa muito as dores, muitas dores pode levar à anestesia, anestesia pode levar à ineficácia das contrações, o que leva à insensibilidade do momento de empurrar. Momento de empurrar (expulsivo) longo é igual a sofrimento fetal. Sofrimento fetal é igual à cesariana.

Quando a mulher é deixada em paz, sendo respeitosamente assistida, o seu corpo vai “dizendo” o que ela deve fazer, em que posições ficar, como se movimentar. O respeito e a tranquilidade geram ambiente para a ocitocina trabalhar. E assim, aos poucos, a dilatação encontra lugar em seu corpo.

Grande abraço, Fernanda.

Texto escrito pela Fernanda Leite, algum tempo antes dela ser doula mesmo de verdade e publicado originalmente no seu blog – amaequesou.wordpress.com